Insônia.

Tem vezes que nos sentimos vazios, como uma bexiga esperando para ser enchida. Nos sentimos inúteis, oras, que utilidade tem uma bexiga vazia? Vivemos à espera daquele alguém que nos preencha. Às vezes um ou outro se candidata à fazer esse favor. Tentam, mas não têm fôlego para encher a bexiga por completo. Então a bexiga vai ficando cada vez mais desgastada de tanto ser usada. E continua lá, a espera de alguém que consiga enchê-la. O tempo vai passando, a bexiga vai perdendo sua cor, ficando cada vez mais fraca. Depois de muito tempo, a bexiga finalmente é preenchida. Aos poucos, sem pressa. Afinal, ela está fraca. Corre o risco de estourar e se perder para sempre. Mas ela confia na pessoa que a está enchendo. E então, com paciência, confiança, generosidade e força de vontade, a bexiga finalmente é preenchida por completo. Passando agora a poder escolher seu caminho: seguir livremente pelo mundo afora ou viver dependente da pessoa que a preencheu. Mas seria justo viver assim, dependendo de outra pessoa? Se ela escolher seguir seu rumo pelo mundo quer dizer que ela não se importa com essa pessoa? Não. Às vezes significa que se importa tanto que ela escolheu deixar a pessoa livre da obrigação de protegê-la. Mas não cabe só à bexiga se decidir. A pessoa que a encheu também tem de decidir se quer deixar a bexiga livre, sozinha, mesmo que ela corra o risco de ser estourada, ou se decide cuidar dela até o fim. Passar cada segundo de sua existência se dedicando por completo à bexiga. O ruim é quando as decisões não são as mesmas e alguém acaba sendo obrigado a tomar um caminho que não quer somente porque o outro decidiu e achou certo para os dois.
É horrível ter que conviver com essa insatisfação sem poder mudar as coisas.